quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Multiculturalismo, Raça, Representação (parte II)

O cinema, durante algum tempo, manteve-se em silêncio no que diz respeito a estas questões. A teoria europeia e norte-americana do cinema parece ter tido a ilusão de ser destituída de raça, pensando somente nas nacionalidades europeias. São poucas as referências que podemos encontrar sobre o racismo na teoria do período mudo.
Mas durante as últimas décadas podemos ver que trabalhos importantes foram publicados sobre questões que envolvem a representação étnica/radical/cultural no cinema hollywoodiano. Um texto importante é o de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, onde é exposto o racismo imperialista que impregnava os desenhos da Disney.
Outra parte destes trabalhos cabe às representações fílmicas das comunidades negras dos Estados Unidos. Numa grande parte da história de Hollywood era quase impossível os afro-americanos ou norte-americanos nativos se representarem a si mesmos, cabiam-lhes sempre papéis de pouca importância e estereotipados. Bogle (1989) fez uma pesquisa dessas representações.
Bogle destaca a grande imaginação dos actores negros, estes foram capazes de transformar papéis depreciadores em performances de resistência.
Importantes trabalhos têm sido realizados sobre outros grupos “inferiorizados”, tais como os latinos, já que o homem latino é muitas vezes caracterizado como um exemplo de violência masculina, são inúmeros os filmes em que isso acontece.
Os preconceitos antigamente direccionados para os indígenas norte-americanos e os negros, parecem cair agora sobre mestiços mexicanos. Quanto mais escura é a cor da pele da personagem, pior ela será.
A busca por imagens positivas não é compreendida pelos grupos privilegiados. Porém num cinema produtor de heróis e heroínas, as comunidades minoritárias procuram inserir-se por uma razão de equivalência representativa.
Os críticos reconheceram a importância das análises de estereótipos e distorções, mas não deixam de criticar os métodos que são utilizados nessas abordagens, pois a obsessão que exercida pelo Realismo leva a que se cometam graves lacunas.
A preocupação exclusiva com as imagens, sejam elas positivas ou negativas, corre o risco de produzir o próprio racismo que deveria estar a combater. As análises de estereótipos deverão ser fundadas no individualismo, pois um foco na personagem individual pode permitir que nenhuma personagem seja estereotipada.
Um cinema de imagens artificialmente positivas traduz uma falta de confiança no grupo retratado, deveria haver a preocupação de, em vez de serem representados heróis, serem representados sujeitos.
O cinema de discurso eurocêntrico pode ser transmitido, não só através das personagens ou pelo trama, mas também através do enquadramento, da encenação e da música.
Para combater o racismo e avançar numa perceptiva liberatória, as representações realistas não são a única solução.
Se por um lado o cinema é a imitação e a representação do outro, este é também um acto interlocução contextualizada entre produtores e receptores socialmente localizados.
Uma discussão com mais realce na questão racial do cinema, deveria caminhar ao encontro da enfatização do jogo de vozes, dos discursos e das perspectivas, incluindo aqueles operantes no interior da própria imagem. Não se trata de um pluralismo, mas sim de um multivocalismo, uma abordagem que abrange, e até incrementa, a diferença cultural, em paralelo com a necessidade de abolir as desigualdades socialmente determinadas.
Nos anos 80 e 90, além dos estudos sobre grupos isolados, assistimos também a estudos sobre a branquidade. Os estudiosos questionam a forma de como os brancos parecem ser a única raça que está isenta de marcas.
O que realmente parece ser importante é manter um sentido de relacionalidade híbrida e co-implicação social das comunidades, para se perceber mais sobre a negritude e a brancura e o seu relacionamento, sem nos deixarmos cair num discurso simplista e resumido.
Talvez seja tempo de pensar num multiculturalismo comparativo, em estudos relacionais que não tenham que passar pelo suposto centro. Em vez da concentração excessiva nas questões norte-americanas e nas representações do cinema hollywodiano, deveríamos pensar em outras relações como por exemplo as do cinema indiano e o egípcio ou do chinês e o japonês.

2 comentários:

  1. A este resumo posso dizer que está um resumo bem feito em que podemos perceber a ideia principal do texto: A discriminação de raças quanto aos actores que participam no mundo do cinema. Actualmente, esse facto, creio eu, que já não acontece com muita frequência, a não ser em alguns países que calculo que tal aconteça. Podem não admitir que tal acontece, mas que acontece, acontece. Na nossa sociedade em relação a este assunto tal não se verifica, como podemos observar há uma variedade de raças que participam no mundo do cinema, canais de televisão, não se observando essa discriminação. Aliás, creio que há uma intenção de mostrarem a capacidade das outras raças no meio da representação. Ao contrário da actualidade, há muito tempo atrás via-se bastante essa discriminação, entendida como racismo no cinema europeu e norte-americano. Tal como diz no texto, nas últimas décadas temos vindo a presenciar um enorme e importante trabalho da parte de algumas raças que há muito tempo eram vítimas do racismo. Têm vindo a realizar grandes papéis com significado em relação aos pequenos papéis que lhes eram dados há séculos atrás. Há uma evolução. Todos sabemos que era sobre os negros, os indígenas e outros que não o homem branco que recaía o racismo. Eram-lhes dado papéis inferiorizados em relação à sua posição para com o homem branco. Tudo isto tem a ver com a cor da pele das personagens, quanto mais escura mais a discriminação era acentuada. Muitas vezes na tentativa de conseguir uma imagem única são utilizados métodos que vem a preceder o desenvolvimento de estereótipos, algo que não deveria acontecer. Deve-se batalhar contra esse racismo para que encontremos uma maior variedade cultural, pois são as diferenças na nossa sociedade cultural que dão “forma” à nossa sociedade.

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  2. Não é possível falar que não existe racismo quando os noticiários portugueses, por exemplo, classificam previamente como ladrões e assassinos indivíduos de outras nacionalidades sem muitas vezes verificarem a veracidade de tais factos. a discussão do multiculturalismo é muito importante porque os estereótipos e a discriminação estão incorporados de tal modo no discurso social e dos media que muitas vezes não nos damos conta de que estão presentes. Neste sentido, o comentário necessitava de uma melhor fundamentação para tais afirmações.

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