Invisíveis [Invisibles] é um filme levado a cabo por Javier Bardem (produtor) e realizado igualitariamente por Mariano Barroso, Isabel Coixet, Javier Corcuera, Fernnando León de Aranoa e Wim Wenders.
Não se trata de um documentário apenas, arrisco a dizer: são cinco mini-documentários. Trata-se de uma estrutura bastante bem montada pois, se a compararmos a outros filmes onde várias histórias se cruzam, estas não o fazem separadamente. Existem fronteiras. Quando acaba uma história começa outra completamente distinta mas que não deixa em nenhum momento de se relacionar com a anterior: todas se relacionam e permanecem unidas pela temática base do documentário: dar visibilidade aos invisíveis, gente que a sociedade insiste em manter no esquecimento e cujos problemas quotidianos não são suficientemente “importantes” – e nem sempre as razões para tal são discriminadas no documentário – para que o ocidente os divulgue mais insistentemente.
Invisíveis dá-nos a conhecer cinco histórias, cada uma delas com a duração aproximada de 20 minutos e dirigida por um realizador diferente. Todas as histórias estão muito bem levadas a cabo e o espectador facilmente se consegue colocar no papel de cada “protagonista”, sentindo empatia pelos seus passados e presentes, os quais acarretam sempre uma dor e uma angústia muito fortes.
A primeira das cinco histórias, realizada por Isabel Coixet, mostra o quotidiano de uma rapariga boliviana que vive e trabalha em Barcelona para melhorar a vida da família. Enquanto acompanhamos essa rapariga num dia normal de trabalho (onde se nota que tem, pelo menos, dois empregos), ouve-se uma voz-off: a da sua mãe que “lê” as cartas que lhe são enviadas e onde dá conta da doença na qual a família se vê envolvida. “Cartas a Nora” retrata isso mesmo: as cartas que a família envia a Nora e onde uma doença que assombra a pobreza da América Latina, “la chancha”, que afecta milhões de pessoas mas que abrange um mercado demasiado pobre para que as grandes empresas farmacêuticas se debrucem e queiram desenvolver medicamentos para a dita doença.
A segunda história, da autoria de Wim Wenders, leva-nos até á República Democrática do Congo onde algumas mulheres denunciam os maus tratos feitos pela guerrilha da oposição, os Maï-Maï. Este exército armado que se fixou do outro lado do rio daquela aldeia vive abusando do poder, usando as armas para conseguir o que quer, num meio onde impera o vandalismo e onde a existência de justiça é nula. Matam os maridos, os filhos, e violam as mulheres, as mesmas mulheres, noites a fio sem qualquer amostra de piedade. É a doentia vontade dos soldados que reina. Os testemunhos destas mulheres, desarmadas de esperança, são impressionantes pela frieza e crueldade que contêm.
A terceira história, da autoria de Fernando León de Aranoa, mostra-nos bem de perto a realidade de milhares de crianças do Uganda, que para fugirem aos sequestros nocturnos para as guerrilhas, vão até às cidades mais próximas para pernoitarem. Um destes “armazéns” seguros onde estas crianças dormem chama-se Arca de Noé, e é nele que o autor procurou conhecer melhor este drama. Durante a tarde milhares de crianças vão chegando a este campo. O ritual é todos os dias igual: chegam, passam por um funcionário que escreve os seus nomes, idades e aldeias de onde vêm, e às 9h30, deitados em esteiras e tapados com simples mantas, é ordenado o silêncio. Na manhã seguinte as crianças voltam às aldeias, para mais tarde se repetir a rotina. Incríveis os testemunhos de algumas destas crianças que viram a sua família ser brutalmente assassinada à sua frente.
A quarta curta-metragem, de Mariano Barroso, foge ao comum formato dos demais documentários do filme, forjando conversações numa reunião entre os voluntários dos Médicos Sem Fronteiras e um alto representante de uma empresa farmacêutica. Nesta reunião, os MSF tentam convencer o executivo a dar um passo em frente no desenvolvimento de medicamentos que podem curar a “doença do sono”, que afecta milhares de pessoas na África Central. Um braço de ferro que se centra na procura de um responsável (os Governos ou as companhias farmacêuticas) ocidental para tais problemas.
O quinto e último mini-documentário, de Javier Corcuera, acompanha um grupo de camponeses colombianos cujas terras lhes foram retiradas pela “guerrilla”, para fins militares, e que tentam recuperá-las. Esta obra mostra como este grupo foi forçado a abandonar as suas terras, deslocar-se com bagagens e gentes para terrenos longínquos (cedidos por ONGs) e como se ali fixaram. Desenvolveram as suas escolas, casas, agriculturas e tentam a todo o custo a autonomia.
Este filme visa ser uma chamada de atenção para a sociedade ocidental, uma tentativa de tornar estas histórias e estas gentes não mais invisíveis aos nossos olhos. Mostra que os problemas primitivos que não imaginamos numa sociedade desenvolvida ainda existem e insistem em não cessar porque quem pode e deve preocupar-se, a fim de ajudar, não o faz, acima de tudo porque não conhece.
Agradou-me bastante todo o conjunto, a estrutura final apresentada, mas a eleger um dos cinco mini-documentários mostrados em Invisíveis, teria de ser o de Wim Wenders ou o de Fernando León de Aranoa. Aplaudo Javier Bardem por ter permitido que esta iniciativa fosse avante.
Genial realmente! Sáo realidades que precisam ser vistas, enxergadas e comentadas. O trabalho de ajuda humanitária que MSF realiza pelo mundo é essencial para a sobrevivencia de milhares de pessoas.
ResponderEliminarParabéns pelo post