A antropologia visual teve um progressivo e prudente reconhecimento, processo este em que se tornaram nítidas as dificuldades, como é o caso da precariedade de programas de ensino envolvendo componentes práticas, técnicas e de reflexão teórica; dificuldades na consulta de arquivos; circulação e intercâmbio de docentes e estudantes e a necessidade de traduzir as teorias antropológicas da cultura para as teorias do cinema.
Ao filme etnográfico e antropológico colocam-se questões pertinentes como o “enquadramento de comunicação”, que se relaciona com o tipo ou género de discurso fílmico.
Em relação a este assunto, Goimard (1980) propõe uma classificação dos filmes, sendo que ele põe sete elementos em evidência que são os seguintes: função social do filme, características físicas do canal, estratégias de comunicação, conteúdos de comunicação, referentes históricos e geográficos de produção, critérios económicos e sociológicos, e avaliação.
Segundo Terres (1985) os processos criativos e as escolhas das estratégias para a elaboração do filme poderão basear-se no destinador, no processo observado e no destinatário, sendo que o predomínio do objecto observado vai dar origem a um filme de pesquisa. Sendo assim, o filme para o investigador será mais de natureza exploratória. Os filmes didácticos, de divulgação e de propaganda estão centrados na questão do destinatário, isto é o espectador, a população e público-alvo. Para a realização destes filmes é necessário um antropólogo ou etnólogo, por vezes a presença de um conselheiro pedagógico, um realizador e uma equipa técnica.
Bouhot e Paillé (1988) fazem referência às modalidades de realização de um filme científico que são elas: realização de documentos para a pesquisa, realização de filmes didácticos e a realização de filmes de divulgação científica ou de comunicação ou de comunicação cientifica para grandes públicos.
Neste género de filmes as imagens assumem uma importante tarefa, uma vez que são os auxiliares de pesquisa, funcionando como um instrumento de prova, controlo e análise minuciosa. Mas este processo contém algumas dificuldades na questão da análise da imagem, por isso Claudine de France sugere o método dos esboços, método o qual iria permitir uma superação do excesso de informação contido numa imagem, ou tirar dele o melhor beneficio para o desenvolvimento da investigação.
Outra questão importante que levanta debates entre cineastas-antropólogos é a da câmara visível ou oculta, pois a filmagem desencadeia comportamentos prófílmicos. Por isso a presença da câmara, a sua visibilidade e a sua utilização não puderão nunca ser feitas sem o consentimento informado das pessoas filmadas. O registo cinematográfico substitui, em alguns casos a observação directa e o registo das conversas locais e com o investigador.
Em relação à existência de documentos visuais estes têm como objectivo preservar as memórias do passado. Para Sorenson é importante preservar em documentos visuais não só os modelos culturais existentes no mundo como também as sociedades que se modernizam.
Portanto o objectivo principal destes documentos é recolher informação de maneira clara, fiel e o mais completa possível. Para a realização destes documentos visuais tanto os antropólogos como investigadores de terreno necessitariam de formação específica no domínio da utilização da imagem. Os documentos visuais servem os objectivos da perspectiva clássica da etnografia e da antropologia, que são o estudo de sociedades primitivas e o estudo das sociedades complexas.
Entramos agora no domínio dos filmes de exposição, filmes ilustrativos, filmes demonstrativos e filmes descritivos.
Quanto aos filmes de exposição pode-se verificar que continua a ser feita a utilização das imagens animadas na etnografia e, trata-se de mediatizar um discurso científico, sendo que este tipo de filmes pode expor certos aspectos da actividade humana com maior facilidade e eficácia do que fariam um texto ou um discurso oral, segundo France. As imagens animadas constituem uma espécie de “linguagem universal”, pois possibilitam uma comunicação científica mais alargada e acessível. Segundo Tosi (1987) há uma lista de acontecimentos em que a presença de elementos dinâmicos é fundamental, como é o caso de acontecimentos dinâmicos geograficamente distantes, acontecimentos do passado, acontecimentos difíceis de repetir, acontecimentos pouco frequentes, acontecimentos verificados numa escala temporal ou espacial não observável ou dificilmente observável, acontecimentos de visibilidade nula, entre muitos outros.
O filme de exposição é o resultado de uma longa investigação conduzida por meios extra-cinematográficos e destina-se a expor os resultados previamente obtidos. Estes filmes dependem da cultura da escrita, pois a sua elaboração baseia-se em métodos tradicionais. No que diz respeito á realização do filme de exposição pode-se verificar que está estreitamente subordinada à fase preliminar, à observação directa, ao inquérito prévio, à elaboração escrita do discurso a mediatizar ou às hipóteses a verificar; e consiste em apresentar as imagens e os resultados da pesquisa. A realização deste género de filmes tende para a directividade e para a economia.
O filme de exposição tem também como característica o facto de ocultar as atitudes prófílmicas das pessoas filmadas e os bastidores das operações de filmagem. A montagem também é importante pois vai agora linearizar a narrativa, eliminar as fontes de ruído e dissimular através do processo de manipulação, as rupturas acidentadas do registo. Assim sendo o filme de exposição tem como objectivo apresentar uma ideia trabalhada, elaborada, organizada e esquematizada acerca de um processo.
O filme ilustrativo é um caso limite da exposição dos resultados, pois sendo elaborado o discurso científico as imagens servirão apenas para ilustrar os escrito, tornando-o mais apelativo. A escrita tem o papel material inicial e as imagens têm a função de ilustração e esclarecimento, sendo que a exposição constitui a tese que o filme (as imagens) ilustrará. Existem então certas relações entre texto-imagem que são: a complementar, em que a imagem tem uma função de esclarecer o texto; a suplementar, que desempenha a função apelativa; e a integrada em que há uma relação entre o texto e a imagem de forma a construir um todo coerente. Uma das formas de ilustração é a dissimulação em que o filme é construído como um filme de ficção no seu todo.
No que diz respeito ao filme demonstrativo, este está dependente de normas científicas de pesquisa e de formulação de hipóteses pré-existentes ao uso da imagem animada, sendo que é exigido ao realizador procedimentos de verificação. Este tipo de filme tem base em critérios de controlo e de registo rigoroso. Sendo assim o filme pode tornar-se um verdadeiro instrumento de pesquisa e não somente um meio de apresentação de resultados.
Por último temos o filme descritivo, que se caracteriza pelos distintos do processo exploratório porque partem da observação directa e do inquérito oral. Este tipo de filmes são sempre construídos a partir do que já é conhecido, e utilizam os meios cinematográficos e videográficos. O filme descritivo tem como especificidade a distribuição das actividades de produção e é guiado por hipóteses implícitas formuladas através da observação e do inquérito oral, sendo a sua função a de descrever e mostrar. E o realizador tem uma certa liberdade em relação aos métodos de investigação extracinematograficos; maior criatividade e uma atitude mais aberta e de cooperação em relação ao autor.
Fonte: José Ribeiro, Antropologia Visual, Capítulo 4.
Post elaborado por: Vanessa Silva Nº33728 Estudos Artísticos 3º ano
Bom trabalho, Vanessa, abordou os principais aspectos do texto.
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