terça-feira, 10 de novembro de 2009

A cicatriz da tomada: documentário, ética e imagem-intensa (Parte 5)

Tipologia da presença na imagem-intensa da morte: Sobchack e Nichols

- A questão da presença do sujeito na tomada é desenvolvida por alguns analistas contemporâneos através da noção de “corpo”. A noção de “corpo” na tomada marca a proximidade das primeiras formulações com o campo da fenomenologia de Nichols (“O documentário exige a presença do corpo”). Corpo => mortalidade
Sobchack e Nichols trabalham o conceito de “visão”/”olhar” para analisar diferentes modos de presença na tomada face à imagem da morte. “visão”, maneira pelo qual o sujeito, que sustenta a câmera, abre-se.

-Caracterização das diferentes posições (formas de se estar, de agir, na tomada) do sujeito-da-câmera em seis tipos:
- acidental;
- impotente;
- ameaçada;
- intervencionista;
- humanitária;
- profissional.
Esta tipologia descreve a presença do sujeito-da-câmara na tomada da imagem-intensa e na tomada da morte.

Iraque, imagens-intensas paradigmáticas e a dor dos outros

- martírios da guerra transformados na banalidade das noites;
- nos média predomina as imagens-intensas paradigmáticas de forte intensidade (ex. o forte impacto das imagens dos eventos 11 de Setembro);
- a imagem-câmera com suporte digital (imagem fotográfica) possui também a dimensão da tomada;
- a dimensão da tomada não permite ao espectador lançar-se à sua circunstancia, não anula a possível interpretação dessa imagem, essa interpretação continuará dependendo da leitura que esse espectador fará da expressão dessa tomada;
- a mediação da câmera e a presença do extraordinário na circunstância da tomada são elementos estruturais da imagem intensa (ex. fotos e vídeos de iraquianos sendo torturados), chamando para a atenção do facto destas imagens existirem, e de que foram feitas para serem olhadas;
- toda a imagem-câmera constitui a presença do sujeito-da-câmera pela experiência do espectador, mas na pose esse movimento para o espectador é sobredeterminado pela arrumação, explicita e intencional, do espaço, configurando a tomada;

Mais sobre a fruição da imagem-intensa: obscenidade e interdição de “Kapo”

- irrompe na imagem o efeito de “obscenidade” quando a intensidade não adquire a necessária gordura humanista. Para o crítico, a intensidade torna-se “obscena”;
- espectador da obscenidade => espectador cruel;
- o espectador é cruel, pois frui a expressão da intensidade em si, e para si, directamente construída para ele pelo sujeito-da-câmara na circunstância da tomada;
- “travelling de Kapo” (Jacques Rivette) designa o campo ético na imagem intensa;
- entre a intensidade e a crueldade da presença, balança a ética do espectador contemporâneo ao lançar o seu olhar para a imagem que tem a sua carne tatuada na tomada.

1 comentário:

  1. Bom resumo, Helder. A Anabela poderia ter comentado também as ideias referidas nos outros posts do texto.

    ResponderEliminar