quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Filme Etnográfico

O filme etnográfico é um género de documentário praticado por cineastas e etnólogos que o aplicam na investigação, no domínio da antropologia visual, filmando assim determinados grupos sociais, de determinadas sociedades. Também podemos considerar, como uma representação da realidade, uma construção que passa pelas ideologias e interesses de quem o faz, de quem participa como personagens, ainda pelas de quem o vê. Os fundamentos do filme etnográfico continuam ainda obscuros, apesar das importantes clarificações trazidas por aqueles que têm tentado por diversas vezes fazer um balanço do emprego do filme em etnologia, ou seja procurar-lhe novos horizontes. É geralmente admitido que o material resultante da utilização do cinema para fins etnológicos divide-se em duas categorias: o filme gerado para apoiar a investigação, quer venha ou não a ser utilizada na exposição dos resultados, e aquele a que se atribui indirectamente um papel nesta fase do trabalho de investigador. Cada uma destas categorias aparece ainda subdividida segundo vários critérios, suficientemente próximos para que possa adoptar uma tipologia. Passo a salientar a de Macdougall: na primeira categoria o autor diferencia duas formas principais, que são:
  • research footage - destina-se ao estudo dos comportamentos humanos que não podem ser avaliados de maneira satisfatória através da observação directa.

  • record footage - aplica-se à recolha de documentos de carácter mais geral destinados a arquivo para posterior tratamento.

No que diz respeito à segunda categoria, na qual se inscreve o tipo de trabalho que geralmente se denomina por filme etnográfico, o autor distingue duas modalidades, que são:

  • filme illustrative - têm como função utilizar a imagem quer como informação a ser esclarecida por um comentário, quer como suporte visual para um discurso falado.

  • filme revelatory - em que os materiais verbal e visual se interferem e relacionam.

No entanto, a tipologia de Claudine de France é mais exaustiva e têm a capacidade de nos introduzir imediatamente no terreno das dificuldades próprias à utilização do cinema em antroplogia. Esta refere duas atitudes metodológicas em relação ao filme etnográfico, que são:

  • filme de exposição - consiste em utilizar o filme como meio de exploração dos resultados obtidos por outros meio de investigação.

  • filme de exploração - meio de exploração, ou seja, de descoberta. Este por sua vez, é dividido em três tipos: filme descritivo, filme demonstrativo e por último, filme ilustrativo. O filme descritivo, em que o cineasta-etnólogo tenta analisar o processo dos resultados da observação directa ou da conversação, guiado pelas hipóteses contidas. O filme demonstrativo, no qual, conduzido pelas hipóteses ou as interrogações expressas, o cineasta ocupa-se em averiguar umas e em responder a outras. E o filme ilustrativo em que a observação directa, constiuindo por si só todo o inquérito, faz aparecer o filme propriamente dito, que nela se inspira directamente como um epifenómeno.

A que condições deve um filme adaptar-se para que possa ser considerado como filme etnográfico, adquirindo assim um estatuto que lhe assegure um lugar na investigação em ciências humanas, mais particularmente no interior de uma disciplina como a antropologia? Karl Heider, parte de duas questões fundamentais para ensaiar várias vias de definição. Ele pergunta-se simultaneamente: 1) De que maneira os filmes etnográficos podem atingir o alto nível e os objectivos da etnografia 2) De que forma estarão habilitados a fornecer informações que se situam fora do alcance da etnografia escrita. A resposta a estas duas questões constitui todo um programa de classificação que tem como finalidade estabelecer a especificidade do filme etnográfico. O autor diz que o mais importante para um filme etnográfico é que ele seja informado por uma compreensão etnográfica, isto é, que o filme respeite as particularidades da etnografia, enaltecendo precisamente aquelas que o processo cinematográfico pode tornar mais reveladoras: descrição e análise de comportamentos humanos através de uma observação prolongada; estabelecimento de relação dos comportamentos específicos com as normas culturais; colocação do observado no seu contexto; consideração da verdade como o principal objectivo da antropologia . Tudo isto parece ao alcance do filme etnográfico desde que se lhe reconheça a possibilidade de ultrapassar uma simples adição de antropologia e cinema. Um filme etnográfico seria então um filme revelador da compreensão etnográfica que mostrasse ao mesmo tempo o que há de melhor na antropologia e no cinema, criando assim a oportunidade de reflectir a antropolgia em termos de cinema, e criando novas vias para as duas disciplinas. Esta seria a resposta à primeira questão posta por Karl Heider. Em relação, à segunda questão, é necessário considerar não apenas aquilo que o cinema pode acrescentar mas também qual é o seu campo privilegiado de acção (espaço, ritmo, movimento). Porém, Jean Rouch faz referência daquilo que o cinema é capaz de introduzir de novo nos diferentes domínios do estudo antropológico, nomeadamente quanto às possibilidades que abre ao estudo da tecnologia, da pré-história, da linguística...A captação de subtilezas que permanecem indiscerníveis desde que não se empregue a técnica de cinema; o destaque de caracteres que não poderiam ser captados por outro meio de registo; a capacidade de mostrar de que forma os homens se situam no terreno, os seus comportamentos e a sua permanência; as relações entre determinada maneira de se vestir, de falar, de rir e de se mostrar, são algumas das possíveis contribuições que Jean Rouch atribui ao meio de pesquisa ainda recente que é a utensilagem audiovisual. Estes são alguns autores, que trabalham na àrea da etnografia-antropologia, e aqui ficam algumas opiniões acerca do assunto. Conclusão, o filme etnográfico existe há mais de 30 anos e são-lhe reconhecidas uma história, uma especificidade e uma vitalidade que ele atesta e prova sem grandes dificuldades através da existência de várias tendências. Hoje em dia, o cinema etnográfico dispõe de um material de alta qualidade que permite uma ampla mobilidade no terreno e o registo contínuo de amplas sequências. As actuais condições de trabalho tornam a actividade mais adequada à sua função e inspiram-lhe uma atitude metodológica completamente diferente da do passado. Agora, é possível rodar planos até uma duração de dez minutos ( ou mesmo uma hora para vídeo ) permite o registo de processos da mais variada ordem sem que haja cortes que coloquem limitações ou soluções de facilidade nem sempre mal acolhidas por alguns autores. O vídeo, por outro lado, para além de assegurar mobilidade e indenpendência, garante a possibilidade de visualizar no terreno os resultados das filmagens. Podemos assim constatar, que houve grandes inovações sofridas pelo filme etnográfico: o desenvolvimento das técnicas, essencialmente, o grande impacto do uso dos microfones ligados à câmara anos 60, a maior sensibilidade das câmaras de 16mm. A utilização de conteúdos mais diversos, a acompanhar novas àraeas de antropologia.

1 comentário:

  1. Neste texto ficamos com a noção do que trata o filme etnográfico, do ponto de vista de alguns documentaristas e/ou estudiosos. Este filme dá-nos a conhecer uma investigação antropológica, investigação, esta, que observa determinados grupos das sociedades humanas, arcaicas ou modernas, observa os comportamentos e estabelece uma relação de comportamentos específicos com as normas culturais, tem um papel de recolha de dados, uma análise, para estudo posterior. Este tipo de estudo apenas considera a verdade como principal objectivo da antropologia, a longa busca pela verdade, pelo que é genuíno, puro e autêntico.
    A evolução da tecnologia, ao longo destes 30 anos de existência, ajudou bastante o filme etnográfico, pois a tecnologia melhorou, evoluiu e transformou-se, o que facilita em termos de mobilidade no terreno, qualidade de imagem e um desenvolvimento das técnicas utilizadas.
    Em conclusão o filme etnográfico, que mostra um povo ou cultura na sua intimidade.

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