terça-feira, 10 de novembro de 2009

De que tratam os documentários?

Capitulo IV



· O Triangulo da Comunicação


O texto apresentado fala, alem de outras coisas, dos vários modos de interpretação um documentário consoante o público, o cineasta e o próprio filme. Geralmente um documentário é feito com uma vertente mais pessoal do realizador para demonstrar o seu próprio ponto de vista, ao contrário dos filmes comerciais, pode ser interpretado de várias maneiras pelo espectador.

O modo de entender e criticar o trabalho de um cineasta consta em analisar os seus trabalhos anteriores, tentar compreender as explicações para as suas intenções e motivos e relaciona-los com o contexto social em que a obra se insere, assim dar-nos-á uma percepção do que o cineasta quer transmitir, o que não invalida que o público tenha uma diferente interpretação e sofra um efeito diferente àquele esperado.

Outro aspecto importante é o modo como cada indivíduo interpreta a mesma história, consoante experiencias pessoais. Em cada documentário podemos ver o modo como o cineasta se relaciona com o mundo em que vivemos pois ele exprime o que sente nos seus filmes mas o espectador pode ver aquilo de modo completamente diferente, dependentemente da sua cultura, da sua experiencia de vida, ou memo da sua sensibilidade. Apesar de tudo nenhumas das nossas predisposições devem ser rejeitadas, pois ao vê-mos algo que à partida não nos identificamos pode criar uma espécie de ligação ao desconhecido o que nos leva a querer saber mais sobre determinados assuntos ou mesmo mudar de opinião em relação a certas coisas, pois a técnica retórica utilizado nos documentários pode direccionar a opinião do publico para várias direcções.


Acontecimentos concretos e conceitos abstractos.


Algo que temos de ter em consideração num documentário é o facto de a nossa linguagem atribuir conceitos concretos ao temas falados. Geralmente damos nomes a realidades tais como fome, pobreza, etc. mas na verdade nos não as vemos são simplesmente etiquetas dadas as representações visuais e auditivas a que assistimos. O cineasta direcciona essas imagens, por vezes acompanhadas por comentários em voz-over, de uma forma específica para que possa-mos retirar as suas próprias conclusões sem que seja necessário exprimi-las verbalmente. A intenção é não dar um nome específico a uma determinada situação mas sim dar um nome a um conjunto de situações semelhantes, sendo elas pertencentes ao mesmo acontecimento ou a acontecimentos semelhantes mas na outra ponta do mundo, pois fome é fome seja em Portugal como na China.

Os documentários abordam, essencialmente, assuntos de interesse social e que suscitam debates. Várias práticas sociais são debatíeis consoante vários factores, tais como região, religião, cultura, relações com os indivíduos em questão, etc. Em dois sítios diferentes do mundo um documentário pode ser visto de várias maneiras, consoante as práticas sociais de cada um.


O desafio da persuasão


A linguagem e a escrita ocidental podem se dividir em três categorias, a poética e narrativa, a lógica e a retórica. Estas são as várias técnicas de persuasão que se utilizam em casos específicos.

O documentário tem como objectivo demonstrar um ponto de vista do mundo através da persuasão, activando a nossa consciência social, por vezes fazendo-nos abrir os olhos para realidades menos boas e ao mesmo tempo termos conhecimento do que nos rodeia.

A retórica, hoje em dia, é uma aliada nas questões onde não existe uma resposta generalizada, colocando o documentário num papel importantíssimo, o de demonstrar essas questões numa só perspectiva específica.


Judicial ou histórico


Neste campo várias coisas são postas em causa, questões relacionadas com a inocência e a veracidade das acções são postas em causa. As verdades antes incontestáveis são postas em causa tendo em consideração não só provas científica (lógica) mas também em veredictos e testemunhos (retórica).

O próprio documentário funciona como um julgamento, que conta os factos através de uma perspectiva e deixando o espectador a criar o seu próprio julgamento.


Cerimonial ou panegírico


Neste campo o autor junta alguns tipos de retórica para avaliar pessoas e seus trabalhos. A retórica cerimonial tenta atribuir as pessoas ou situações um lado afectivo e moral, demonstrando o seu lado agradável ou desagradável. Esta retórica assemelha-se à descrição na narrativa.

A retórica é necessária pois não há um modelo de sociedade que se aplique no mundo inteiro, e como tal é necessário direccionar o documentário para um ponto de vista explícito para facilitar o seu julgamento.

O poder da Metáfora

A metáfora é algo necessário nos documentários. Existem temas que quase em todo lado são tratados da mesma forma mas existem outros que até possuem definições no dicionário mas que dependentemente das pessoas que os abordam têm conexões morais distintas. É aqui que a metáfora entra, enriquecendo o diálogo para ajudar na compreensão desses mesmos temas.

A metáfora leva-nos a pensar mais por nós e não exactamente naquilo que nos é impingido pela nossa sociedade. Quando nos identificamos com o ponto de vista do cineasta significa que este soube utilizar a retórica, produzindo argumentos suficientemente metafóricos que nos cativou e persuadiu.

Conclusão

Os documentários têm como objectivo fazer pensar sobre assuntos que hoje em dia ainda suscitam dúvidas ou que ainda não obtiveram uma resposta universal. Esses assuntos são abordados segundo uma perspectiva particular e são apresentados argumentos que a justifiquem. Por vezes podem dar asas a discussões entre dois pontos de vista diferentes consoante os valores de cada indivíduo.

A retórica e a metáfora são duas grandes armas do documentário, pois a retórica, nesta matéria, vence a lógica em grande escala e a metáfora ajuda a não tornar as coisas claras de mais ao ponto de impingir a opinião do realizador no espectador mas também não as generaliza demasiado para que o observador compreenda o ponto de visto do realizador mas que possa pensar por si mesmo.

2 comentários:

  1. Concordo com essa análise, de facto normalmente o realizador de documentário está associado a certa causa específica, atraindo assim um específico grupo alvo de espectadores, mas pode-se dar o caso contrário, isto é, não está ligado a nenhum tipo de conceito e pode atrair todo o tipo de público.

    Realmente o trabalho de um realizador pode ser o seu espelho, ou melhor devo-o ser, a obra deve reflectir o seu autor e vice-versa, e assim contextualiza-se socialmente e esteticamente da obra em si e o que ela transmitiu ao público em determinadas alturas.

    O documentário tem esse aspecto, toca emocionalmente em todo o público, mas difere realmente de indivíduo para indivíduo de acordo com as suas experiencias pessoais. O documentário tem então a necessidade de jogar com técnicas, tais como a retórica para levar o público na direcção pretendida pelo autor/realizador.

    Com uma boa montagem por parte do cineasta, juntar elementos como a imagem-som sem necessariamente utilizar palavras pode dar um código que ligue todo o mundo pois pode ser entendido mundialmente independente da língua pois a componente visual é a predominante. De qualquer forma os assuntos debatidos com carácter social irão ser abordados de maneiras diferentes consoante o país em questão.

    A poética, lógica e a retórica são de facto «ferramentas» essenciais para demonstrar um ponto de vista do mundo de modo persuasivo.

    O documentário é um modo de abordagem judicial de facto, é uma maneira de apresentar factos histórico/sociais de modo a levar o público a fazer um julgamento do mesmo, isto é, do tema em causa.

    A metáfora é outra «ferramenta» bastante útil no documentário, esta serve para nos identificarmos enquanto espectadores e perceber a visão do cineasta, que assim nos cativou e persuadiu levando-nos ponto fulcral que ele pretendia.

    O Documentário em si é uma arma, e por ser mesmo assim gera polémica ou não consoante o indivíduo, e consoante claro o realizador desse mesmo documentário, pois embora lá seja retratada a sua visão pode e deve levar o espectador a pensar por si mesmo.

    Comentário por Nuno Fernandes
    Nº35234
    Estudos Artísticos

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  2. Bom resumo e bom comentário. O resumo poderia ter aprofundado um pouco mais a questão retórica.

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