quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Michael Moore e uma narrativa do Mal (Primeira Parte)



Uma vez que o cinema documental está intimamente relacionado com o plano do real, é de fácil compreensão a fusão – entre a ficção/cinema e a política, que está patente na obra documental de Michael Moore. Moore colocava a tónica na devastação proveniente do neoliberalismo, pois acreditava que um bom uso do cinema poderia mobilizar a sociedade, provocando, deste modo, uma forte agitação política aliada a um clima de denúncia. Quando se fala em clima de denúncia, deve-se esclarecer que Moore dava primazia a diversos pontos que afectavam a sociedade: o desemprego gerado pelas diversas empresas, bem como a irresponsabilidade criminal protagonizada pelo regime político, ou seja, inúmeros interesses políticos que afastavam a política para outros países. Esta vertente, que se debruçava sobre a tragédia neoliberalista, tinha o nome de documento social. Era, então, possível advogar que a obra documental de Michael Moore primava pelas suas intenções políticas. Contudo, como a sua obra foi um êxito em termos de receitas, é muito destacada pelos lucros gerados e não pelo seu cariz político.
O crítico Ed Halter expõe, num artigo do jornal Village Voice, as bases do sucesso dos documentários de Michael Moore. Halter afirmava que este sucesso era proveniente de uma “ (…) combinação de interesses públicos e privados (…) ”. O seu documentário “Roger e eu”, do ano de 1989, tornou-se na “prova viva” destas bases anteriormente expostas por Halter: doou 20 mil entradas aos desempregados, sendo também exibido gratuitamente em sindicatos e escolas administrativas. Seguidamente, o seu documentário “The Big One” de 1997 - que como “Roger e eu” expôs os grandes patrões monopolistas, continuou a ajudar com fundos monetários (neste caso cheques passados de 80 centavos) os trabalhadores das fábricas envolvidos neste acto de expor a exploração por eles vivida. A par do documentário “Tiros em Columbine”, que tinha como principal objectivo localizar o mal na sociedade por assim dizer “benigna”, Michael Moore lançou o seu website que, através do seu sistema de mensagens, permitia manter em contacto uma legião que era detentora de ideais semelhantes: resistência à posse de armas e à campanha de George W. Bush durante a sua candidatura a presidente dos EUA. Muitos críticos refutaram esta estratégia de criação de um website enquanto meio de propagação de ideias, pois eram apologistas de que isto apenas se tratava de uma mera estratégia de marketing. Em suma, Michael Moore é um opositor dos ideais de injustiça e desigualdade adoptados pelo paradigma político vigente, que utiliza o seu trabalho como uma arma crítica face ao sistema, produzindo uma verdade que desmascara o sistema que dissimula a realidade.
Actualmente vivemos na proclamada Idade de Ouro do documentário, que pressupõe uma certa subjugação por parte do documentarismo perante o mercado, tendo de competir com os meios de comunicação das massas. Sem outra escolha, o documentário recorre a diversas técnicas, procurando veracidade e agrado dos espectadores. Não descuida de testemunhos claros e objectivos, recolhidos de fontes com certas características: típico cidadão comum, com quem o espectador se revê, gerado familiaridade e interesse. Esta ideia do testemunho está relacionada com a verdade, pois a palavra é uma arma poderosíssima que permite caracterizar a história e todas as suas fendas. O cinema documental deverá, então, ser fiel ao plano do real, retratando acontecimentos do mundo, ainda que não isento de opiniões pessoais e provocações.


Entrevista a Michael Moore sobre a General Motors: http://www.youtube.com/watch?v=VPGD-UEQIf0

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