quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Michael Moore e uma narrativa do mal (Última Parte)




Quando questionado numa entrevista, Michael Moore refutou a previsibilidade de muitos documentaristas, dizendo que sentimentos como a surpresa e a comoção são, no fundo, a base da narração de histórias. Moore faz, também, uma comparação entre duas verdades: a verdade pertencente ao cinema clássico face à verdade presente no documentarismo. No fundo, o que as distingue é a imaginação, pois nos documentários de Michael Moore as acções são reais e não imaginadas como no cinema. A questão da verosimilhança é trabalhada em ambos os casos, mas Moore considera que o documentarismo se serve melhor desta, pois utiliza-a para comover o espectador. Todos os seus testemunhos (quer diante da câmara, quer em voz off), todas as suas fotografias/imagens, toda a sua banda sonora, fazem com que o seu trabalho se aproxime do modelo de Hollywood. Como os seus trabalhos se centram na figura dos vilões, dos culpados, dos corruptos – mesmo que estes sejam políticos ou polícias, podemos dizer que a narrativa de Michael Moore é uma narrativa do mal. Nesta tentativa de expor o mal, Michael Moore encontra um vasto e experiente grupo de aliados: Clint Eastwood, Lars Von Trier e Gus Van Sant. Este último servia-se da cultura popular para colocar em evidência o terror da sociedade – o documentário “Tiros em Columbine” é um exemplo do uso da cultura popular e indizível. Tomando novamente atenção ao documentário “Fahrenheit 9/11”, percebemos que as figuras de Alá e Jesus são ridicularizadas e apontadas como figuras negativas. Por outras palavras, a religião é “ (…) um ingrediente do perfil do mal absoluto (…) “.
O seu documentário “Canadian Bacon”, do ano de 1995, visa a figura de George W. Bush, indo mais longe: convida do actor e realizador norte-americano Alan Alda para fazer o papel de um político desesperado para subir ao poder, que inicia uma guerra entre os EUA e o Canadá.
Roberto Rosselini, director de cinema italiano, coloca uma questão que se arrasta desde os primórdios do documentarismo: “Como e a partir de que imagens da realidade pode-se fazer surgir a ponta da verdade?”. Para Michael Moore o véu da verdade deve ser destapado através de imagens eficazes, por mais chocantes que estas possam ser.
Nos dias que correm a população adere espontaneamente a esta iniciativa de colaborar nos documentários, e nos de Michael Moore, este escolhe-as pela sua ligação à acção: tanto podem ser vítimas, como figuras públicas ou culpados, o que interessa é que estes primem pelo conhecimento por assim dizer empírico e pela empatia, nunca deixando a sua crença de lado. O que é certo é que nos seus documentários, os entrevistados estão à altura do que é esperado, colaborando de forma correcta no produto final.
Na generalidade, um documentarista tem de agregar vários conceitos: ética, convicção e, sobretudo, “obsessão” pela verdade. Só assim poderá aplicá-las ao cinema, produzindo o efeito necessário sobre as massas.
Para terminar, basta-me deixar bem claro que a obra de Michael Moore é, sobretudo, crítica que assenta nas profundezas da ideologia política, mas que tem como principal objectivo criar resistência face ao sistema político.

Michael Moore documenta a perseguição aos homosexuais através do ponto de vista religioso: http://www.youtube.com/watch?v=Ra_fAYl4Th4

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