quinta-feira, 5 de novembro de 2009

“Ficção ou não-ficção e o cinema de asserção pressuposta: uma análise Conceitual” (Conclusão)


Conclusão:
O autor apresenta a sua teoria, de forma a defender o que acredita, criticando o que não acha correcto, demonstrando ser possível o desenvolvimento da sua teoria da ficção e da não ficção e constatando com perguntas a si próprio para ver viabilidade das respostas.
E conclui que dizer que um filme é um “documentário” é o mesmo que dizer que se trata de “um filme de asserção pressuposta”, e se há alguém que não acredite, eles que expliquem o por quê.

2 comentários:

  1. Neste seu texto Noël Carroll (filósofo e jornalista americano doutorado em Estudos Cinematográficos) faz uma abordagem algo complexa da problemática do que deve ser considerado como filme do género documental.

    O autor parte da definição do conceito de documentário criada por John Grierson, de que tal género de filme deve ter uma dimensão criativa e não se resumir à simples amostragem da realidade. Carroll considera esta definição demasiado restrita, mas também não quer cair no extremo de afirmar que o documentário inclui tudo o que é não-ficção.

    O autor propõe, assim, a designação de cinema de asserção pressuposta para definir a essência do filme documental, classificando-o como uma subcategoria da não-ficção. Começa por distinguir ficção da não-ficção. Parte do exemplo da literatura e refere que as questões de estilo e técnica e as questões de género não são determinantes para distinguir estes dois tipos de narrativas. A distinção entre ficção e não-ficção é, para Carroll, uma questão conceitual, teórica, filosófica, logo, implica reflexão e interpretação.

    O autor utiliza, então, o que apelida de modelo comunicativo de intenção-resposta para definir um produto ficcional: o cineasta explicita as suas intenções autorais no produto fílmico de modo a direccionar o olhar do público. De forma inversa, o cinema de asserção pressuposta de Carroll nega esta preocupação com a recepção por parte do espectador – o documentário deve ser de tal forma objectivo e verdadeiro que não há que ter preocupações com as leituras subjectivas do público. Nesta concepção de cinema não há espaço para interpretações e leituras variadas, só para leituras concretas e objectivas – Carroll não encara, de facto, o documentário como um objecto artístico.

    Noël Carroll considera o conceito “griersoniano” de documentário demasiado restrito, mas na minha opinião é a visão de Carroll que soa muito limitativa do que pode ser definido como objecto documental. Carroll descreve de forma rigorosa como se fazer a distinção entre ficção e não-ficção mas, será que se consegue fazer essa distinção de forma tão simples e linear? E será possível conceber um filme documental de forma totalmente objectiva? Não possuem todas as produções humanas alguma carga de subjectividade adjacente?

    O ponto de vista deste autor deixa-me algumas reservas, principalmente quando confrontado com outras perspectivas, nomeadamente de Bill Nichols que apresenta uma visão mais aberta do que é um documentário; para Nichols todos os produtos fílmicos, documentais ou não, são sempre construções de realidades, logo, a linha que divide ficção e não-ficção torna-se mais ténue.

    Carroll, neste seu ensaio (que apresenta uma narrativa um pouco repetitiva e por vezes maçadora, porque “mastiga” em demasia determinadas ideias) faz uma abordagem de definição do género documental que me parece, hoje, em pleno século XXI, já ultrapassada. O seu contributo para esta problemática da essência do documentário, quanto a mim, tem apenas o mérito de servir como apenas mais um ponto de vista ao qual se pode (e deve) contrapor outras opiniões.

    Ana Raquel Silva
    EA – 33717

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  2. Muito bom resumo, Milene, entretanto evite expressões como "ficar com o pé atrás" ao fazer trabalhos desta natureza.
    Bom comentário, Ana Raquel. Esta discussão é importante para se definir o campo de estudos do documentário, que por incrível que pareça ainda não se estabeleceu como deveria em pleno séc. XIX. A definição de cinema de asserção pressuposta consegue, de certo modo, sair da discussão que se coloca entre ficção e realidade, a define com outros pressupostos, por isso é que é importante.

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