François Laplantine, Aprender Antropologia, S.P. Brasiliense, 2006
por Ana Raquel Silva, 33717, EA, 3ºano
François Laplantine (1943) é um antropólogo francês, professor de Etnologia da Universidade de Lyon II. Os seus objectos de estudo são os países da América Latina, sobretudo o Brasil – é responsável pelo Programa de Cooperação Inter-universitário com a Universidade Federal do Ceará. As suas pesquisas estão relacionadas com a antropologia da doença e das religiões, mas também estuda as relações da antropologia com a escrita.
Aprender Antropologia foi publicado pela primeira vez em 1996. Esta obra é uma introdução à antropologia, “é um primeiro panorama geral” e está “construído dentro da tradição francesa do pensamento analítico e da clareza de expressão”, como refere Maria Queiroz, pelo que o livro se destina a todo o público em geral – a todos os que se interessam em conhecer a essência do homem enquanto semelhante e enquanto o “outro”.
Nesta obra o autor explora as duas perspectivas de abordagem à antropologia: primeiro faz uma análise diacrónica da evolução do conhecimento antropológico ao longo da história; depois apresenta as diversas perspectivas actuais.
Introdução: O CAMPO E A ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA (pp. 13-33)
O autor começa por referir que o homem tem colocado, desde sempre, inúmeras questões sobre si mesmo, independentemente da época (desde a pré-história até aos nossos dias) e do local (desde a Ásia à América).
A verdade é que a “ciência do homem”, a antropologia, só se constituiu como saber relativamente científico apenas na segunda metade do século XIX. É só nesta altura que o homem se toma como o próprio objecto de estudo, aplicando-se os mesmos métodos que só se utilizavam na biologia ou na física. Até aqui as considerações do homem em relação a si mesmo tinham sido de ordem mitológica, teológica, filosófica e artística, mas nunca científica.
É na Europa que se começa (desde o século XVI) a busca pelo “outro”, pelo desconhecido e é também na Europa, depois de não haver mais locais inexplorados, que se começa a esboçar a disciplina da antropologia como um saber científico.
Os primeiros antropólogos escolhem como objecto de estudo as sociedades exteriores às europeia e norte-americana – as chamadas “sociedades primitivas” e “longínquas” porque:
1) são de dimensões restritas;
2) tiveram poucos contactos com outras sociedades, logo, estão no seu estado mais “selvagem”;
3) são pouco desenvolvidas tecnologicamente e
4) são pouco desenvolvidas no que toca à estruturação e actividades sociais.
Ou seja, a “simplicidade” destas sociedades e o seu “exotismo”, em comparação com as sociedades ocidentais mais “civilizadas” e mais “complexas”, parecia permitir aos antropólogos uma melhor compreensão de ambas – porque, inevitavelmente, a antropologia faz-se através de processos de comparação.
O início do século XX assiste à afirmação da antropologia enquanto “ciência do homem” e ao estabelecimento e legitimação dos seus próprios métodos de pesquisa. Mas o século XX assiste também a uma crise de identidade da antropologia – sendo o principal objecto de estudo desta ciência as sociedades “primitivas” e estando estas a desaparecer rapidamente, qual seria então o futuro da antropologia? O autor mostra três diferentes vias adoptadas pelos antropólogos:
1) os antropólogos que se dedicam à sociologia comparada;
2) os antropólogos que vão ao encontro de outro tipo de “primitivismo”, como o camponês, dedicando-se assim aos estudos etnográficos e
3) os antropólogos que deixam de lado o objecto empírico do primitivo e que fazem uma abordagem epistemológica do homem, ou seja, que procuram respostas universais, não limitando os seus estudos a espaços geográficos, culturais ou históricos particulares.
E é esta terceira e última visão da antropologia que Laplantine desenvolve neste capítulo, porque, como o autor refere “a antropologia não é senão um certo olhar, um certo enfoque que consiste em: a) o estudo do homem inteiro e b) o estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas.” (p. 16)
Na minha opinião o autor começa muito bem mostrando-nos a realidade, que desde sempre o Homem se interrogou com inúmeras perguntas… e isto ainda hoje acontece. Mas com a evolução a respostas foram sendo outras, tendo mais teorias e métodos para obter as respostas, e as perguntas foram sendo mais complexas.
ResponderEliminarMuito mais tarde surge o aparecimento da Antropologia, no processo muito inicial e com muito pouco conhecimentos. E Laplantine mostra o seu ponto de vista, apresentando 3 vias diferentes.
Para o autor para se fazer um trabalho antropológico não exige apenas conhecer um pouco do Homem ou do Povo, mas sim no seu todo, e para isso é necessário ter conhecimentos em outras áreas, o que eu acho muito correcto, porque por vezes tem-se a nossa que é relativamente fácil fazer-se um trabalho antropológico, é apenas conviver, observas e apontar, mas não exige mais do que isso… exige conhecimento! É necessário empenho e dedicação.
Mais uma vez concordando com o autor, é essencial conhecermos outras culturas, outras tradições… porque muitas vezes estamos fechados na nossa própria cultura, nos nossos próprios hábitos e só isso é que é correcto e quando vemos coisas diferentes a serem feitas provoca-nos estranheza, muitas vezes ate repugnância. E é preciso conhecer, ver diferenças e até semelhanças porque é isso que é importante para o ser humano.
Outro ponto que Laplantine toca e que acho de verdadeira importância, é a diferença entre Etnologia e Antropologia, o que por vezes muitas pessoas não conseguem estabelecer a diferença.
No final deparamo-nos com perguntas importantes feitas pelo autor e que muitas vezes nós próprios no fazemos quando estudamos.
Bom resumo e bom comentário. É importante perceber a mudança epistemológica que acontece no séc. XX em relação à antropologia que está relacionada com a crise da visão ocidental do mundo que considerava os "outros" como primitivos. Entretanto observou-se que outras culturas tinham níveis de desenvolvimento semelhantes aos ocidentais, mas que muitas vezes foram dizimadas, como é o caso das culturas maia e asteca, por ex.
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